Texto publicado no Jornal Voz da Terra
“Era uma vez um menino maluquinho. Ele tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés, umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo) e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinhos no sótão)”. Quem foi criança na década de 80 certamente se lembra dessa desses versos, escritos por Ziraldo, criador do “Menino Maluquinho”. Dos elementos apresentados, de longe os macaquinhos são os mais intrigantes. Macacos são divertidos, irresponsáveis, inquietos – corresponde a constante agitação da imaginação infantil. Sótão representa a parte superior de uma casa, lugar onde se guardam apetrechos pouco usados – e aqui corresponde ao cérebro, supostamente a parte pensante do homem. Logo, ter macaquinhos no sótão é o mesmo que estar em permanente processo de criação.
Contudo, o mecanismo que permitiu a apreensão desse encontro inusitado entre macacos num sótão constitui um momento especial na vida de qualquer criança: quando pela primeira vez ela junta uma letrinha, e mais outra, e várias delas e começa... a ler! A descoberta do mundo através das letras é uma conquista tão importante que será utilizada pelo resto de sua vida. E a cada nova idéia que se transforma na imaginação é uma nova janela que se abre para o mundo. A leitura é essencial para a formação de sujeitos conscientes, responsáveis por sua aprendizagem. A experiência positiva com a linguagem possibilita à criança operar melhor a realidade que a cerca e modifica-la de acordo com suas necessidades.
Apesar da cultura de imagens que nos últimos tempos tem invadido nosso cotidiano, em comparação com outras manifestações artísticas, como o cinema e a televisão, a leitura preserva vantagens únicas: as escolhas não se limitam á ofertas da atualidade comercial; é possível ler onde e quando a conveniência solicitar; pode-se imprimir o ritmo necessário, retardando ou apressando seu conteúdo. É possível ainda interrompe-la para reler ou refletir, tudo isso ao bel-prazer do leitor
Crianças têm uma curiosidade inata e a literatura infantil proporciona um jogo singular. Através do objeto livro, seu formato, seu manuseio fácil e contato com as possibilidades emotivas que este oferece, o pequeno leitor faz descobertas e aprimora sua capacidade de comunicação com o mundo.
É fato que esta experiência ocorrerá quanto mais freqüente for o contato da criança com os livros. E é fato também a precariedade com que o público infantil consegue acessá-los. São raras as bibliotecas escolares. As que existem não possuem acervo adequado ou métodos que propiciem o contato agradável com o livro. Mais raras ainda são as bibliotecas domésticas.
Neste cenário, a falta de incentivos à leitura, principalmente de textos literários, diminuem as possibilidades que a criança tem de mergulhar em mundos desconhecidos e fantasiosos. Como antes citado, crianças são naturalmente curiosas e imaginativas. Assim como a personagem de Ziraldo, crianças têm olho maior que a barriga, vento nos pés, fogo no rabo, e principalmente macaquinhos no sótão. E precisam de um repertório lingüístico variado para dar vazão a toda criatividade arquitetada naquele sótão. Investir no contato com livros sempre é uma boa opção. Macaquinhos agradecem...
Márcia de Oliveira Tozzi
Psicóloga | CRP 06/87851
marcia_tozzi@yahoo.com.br
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